Os últimos anos do século xix e os primeiros do século xx assistiram
a uma importante mutuação da sensibilidade perante o real e dos paradigmas
teóricos e científicos que a sustentavam. O essencial dessa crise foram
as crescentes dificuldades do paradigma positivista para defrontar os seus
próprios «factos» nucleares — ou seja, uma progressiva ruptura entre os quadros
da observação e da experiência e as teorias sobre ele suportadas.
O aspecto mais importante dessa ruptura —e que está na base da nossa
sensibilidade moderna— é que ela punha em causa não só as interpretações
dominantes, mas também os fundamentos epistemológicos em que se alicerçava
o pressuposto positivista de que era possível conhecer o mundo.
Deste modo, a ruptura epistemológica do início do nosso século ia mais
longe do que as rupturas anteriores. Na ruptura galilaica e, em bom rigor,
na que separa a ciência renascentista da medieval, o que se punha em causa
era a subordinação da construção dos factos a uma teoria lógico-especulativa,
«invertendo-se» a relação da subordinação e, eventualmente, nas teorias mais
radicais, negando-se o segundo termo da relação como na frase newtoniana
«não faço hipóteses».(…)É o caso da relação entre as teorias biológicas de Darwin e a genética
de Mendel.(…)
O evolucionismo, uma vez que pode fundar-se na genética, trazia não
só a queda do homem do local central da criação divina para o domínio
natural, mas também a verificação —essa muito mais importante no domínio
epistemológico— de que, na evolução, era o acaso o mecanismo principal,
e não a necessidade. Tal percepção significava que o destino do homem
enquanto espécie não era devido a qualquer racionalidade teleológica, mas
sim a factores e incidentes ocasionais.
José Pacheco Pereira in Análise Social, vol. XXII (94), 1986-5.°, 989-995
Janeiro 13, 2010 às 10:58 pm
o post não tem as categorias correctas
Janeiro 13, 2010 às 10:59 pm
o texto tem interesse